3 de março de 2024

A Criatura que Devorou seu Criador

"Em uma noite misteriosa sua sombra se projeta na varanda da casa da frente da sua sacada, ela então entra pela porta da frente e desaparece pela manhã"

 A sombra é um conto de fadas sobre uma sombra de um sábio que ganha consciência e forma humana, diferentemente dos contos de fadas que conhecemos, não há um final feliz, após reencontrar sua sombra o sábio se vê reduzido à sombra de sua sombra, sua sombra por outro lado se casa com a princesa do reino enquanto eu antigo mestre é executado após tentar revelar a verdade.

há diversas interpretações para esse conto " Ter cuidado com os falsos amigos", "Para controlar o seu lado sombrio você deve compreende-lo, ou ele irá te controlar" mas eu tive uma interpretação do ponto de vista mais artístico e em como a criação de um artista pode devorar o seu criador.

No conto o sábio é fascinado com a casa na frente da sua varanda, ele imagina o que pode ter lá, nunca viu ninguém sair da casa, mas a porta se abre todas as noites e há musica saindo de lá.

Quando a sombra toca a porta da casa ele pede que ela entre e conte sobre as coisas que havia lá, sua sombra vai, conhece a poesia, o mundo, ganha consciência, forma, fala, e eventualmente se torna maior que o seu criador, alcançando coisas que o sábio jamais alcançaria.

Por volta de 1880, Sir Arthur Conan Doyle. criou um personagem tão icônico, tão conhecido, tão carismático, que até mesmo quem que nunca leu um livro o conhece, porém Arthur já não suportava o personagem:

"Tive uma overdose tão grande dele que sinto por ele o mesmo que sinto por patê de fois gras, do qual uma vez comi demais, de modo que o nome dele me dá uma sensação doentia até hoje"

Ele tentou matar seu personagem, mas recebeu uma carta de sua própria mãe implorando para que não o fizesse.

 "Penso em mata-lo… e acabar com ele para sempre. Ele tira a minha mente de coisas melhores" 

  "Você não vai! Você não pode! Você não deve!"

Em 1893 Arthur finalmente tomou coragem e escreveu o ultimo conto de Sherlock Holmes, ou pelo menos seria assim se a pressão dos fãs não tivesse obrigado o autor a reviver o famoso detetive.

Arthur morreu em 1930 e seu ultimo conto: A inquilina de rosto coberto: Um caso de Sherlock Holmes foi publicado em 1927, com a sua morte muitos de seus fãs ficaram decepcionados pois não haveriam mais aventuras do nosso amado detetive.

"Uma espécie de nostalgia tomou conta de mim e a vontade de vê-lo mais uma vez antes da sua morte, pois você – é claro – vai morrer um dia- Disse a sombra"

Ironicamente o autor do conto A Sombra, passou por uma experiência parecida, talvez muitos não conheçam o nome Hans Christian Andersen, mas com certeza conhecem a história da Pequena Sereia. 

Arthur tentou se livrar de sua criação, mas assim como a sombra, ele já não a controlava mais, Sir Arthur Conan Doyle jamais será completamente esquecido, mas apenas porque Sherlock Holmes é a sombra que devorou o seu criador.

E você? Tem medo de um dia ser devorado pela sua criação?

2 comentários:

  1. É uma situação difícil de ser lidada.

    Boa semana!

    O JOVEM JORNALISTA está em HIATUS DE VERÃO do dia 03 de fevereiro à 06 de março, mas comentarei nos blogs amigos nesse período. O JJ, portanto, está cheio de posts legais e interessantes. Não deixe de conferir!

    Jovem Jornalista
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    Até mais, Emerson Garcia

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  2. Isso acontece tanto! Eu costumo me esquecer facilmente o nome de um artista e lembrar da obra. Acho que a gente acaba se acostumando a consumir conteúdos e não ir a fundo, não conhecer o que há por trás daquilo. E cada vez mais consumidos pelo superficial e instantâneo vamos perdendo mais e mais essa profundidade.
    Achei reflexivo o post e fico pensativa sobre me atentar mais a isso.
    Muito bom o tema <3

    Abraços,
    Any.

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