4 de setembro de 2016

Contos: A Pata do macaco

A pata de macaco foi escrita por WW.Jacob, em 1902, não é um conto mitológico tradicional, mas não deixa de ser um conto interessante, eu havia postado ele há algum tempo, mas o modo como foi escrito dificultava a leitura, por isso resolvi refazer o post.


Em uma noite chuvosa a família White estava na sala de visitas esperando a chegada de um convidado para o jantar, o sargento Morris, que havia voltado recentemente da Índia onde viveu muitas aventuras, os Whites estavam curiosos para ouvir os relatos de Morris.

-Ele chegou- O pai disse recebendo um homem alto,corpulento de olhos pequenos e nariz vermelho- Sargento Morris!

O sargento cumprimentou o senhor White com um aperto de mão e se sentou no perto do fogo se juntando à família enquanto o seu anfitrião servia alguns copos de uísque e colocava uma chaleira de cobre no fogo. O sargento passou então a contar histórias sobre as suas viagens, falou de paisagens selvagens, feitos intrépidos e culturas estranhas.

-Eu gostaria de ir à Índia- Disse o Sr. White- Conhecer aqueles templos, os nativos, os faquires...

-Você está melhor aqui- Disse o sargento sacudindo a cabeça.

-O que foi que você começou a me contar outro dia? Algo sobre uma pata de macaco...

-Nada.- O homem cortou rapidamente- Não é nada importante

-Para de macaco?- Perguntou a Sra. White.

-É apenas algo que possa ser chamado de magia- Disse o sargento querendo desviar do assunto, mas ao ver o olhar interessado da família ele desistiu e começou a mexer no bolso- Aparentemente é só uma patinha comum ressecada- Disse tirando algo do bolso que fez a Sra. White recuar, mas o filho do casal resolveu pegar a pata e examinar

-O que há de especial nela?- Perguntou o Sr.White examinando a pata que estava com o seu filho e colocando sobre a mesa.

-Foi encantada por um velho faquir, um homem muito santo que queria provar que o destino regia a vida das pessoas, e aqueles que interferissem seriam duramente castigados. Três homens diferentes poderiam fazer três pedidos cada um para esse amuleto.

-Bem,- Disse Herbert White, o filho do casal- Porque não faz os seus três desejos, senhor?

-Eu fiz..

-E eles se realizaram?- A Sra. White quis saber.

-Sim, mas eu não quero falar sobre isso...

-E mais alguém fez os pedidos?- Ela insistiu.

-Um homem antes de mim fez três pedidos para a pata, eu não sei quais foram os dois primeiros, mas o terceiro oi para morrer, foi assim que eu consegui a pata.- Por fim ele atirou o amuleto no fogo fazendo com que o Senhor White soltasse um grito e corresse para tira-la da lareira.

-Se você não a quer, então dê ela para mim.

-Eu a joguei no fogo, se você ficar com ela, não me culpe pelo que acontecer, seria melhor deixar essa coisa queimar.

-Como se faz para pedir?- O velho disse ignorando o aviso do amigo.

-Segure com a mão direita e faça o pedido em voz alta, mas eu sugiro que não faça isso.

O jantar ocorreu normalmente, depois que Morris foi embora os Whites continuavam intrigados com a pata de macaco.

-Na verdade- Disse o Sr. White- Eu não sei o que pedir, acho que já tenho tudo o que quero.

-Seria bom se nós terminássemos de pagar a casa certo?- Disse Herbert- 200 libras deve ser o suficiente.

Sr. White então segurou a pata com a mão direita e disse- Eu desejo 200 libras!- Imediatamente ele soltou o amuleto assustado- Ela se mexeu!! A pata se mexeu!!

-Bem, eu não vejo o dinheiro- Disse o filho- Deve ter sido a sua imaginação pai.

-Não, eu juro, ela se contorceu como uma cobra.- O velho insistia - Não faz mal, não aconteceu nada mesmo.- Mais tarde a família foi dormir rindo da ingenuidade de acreditar em um conto de fadas. Na manhã seguinte o filho continuava a fazer piadas com a pata do macaco que não funcionou.

-Creio que todos os velhos soldados são iguais - disse a Sra. White- Essa ideia de dar ouvidos a tal tolice! Como é que se pode realizar desejos hoje em dia? E se fosse possível, como é que iam aparecer 200 libras?

- Morris disse que as coisas aconteciam com tanta naturalidade - disse o pai - que a gente podia até achar que era coincidência

-Então não gaste todo o dinheiro antes de eu voltar- disse Herbert saindo para o trabalho.

Algumas horas depois o casal ainda estava na cozinha conversando quando acampainha tocou, um homem bem vestido esperava do lado de fora, lembrando das 200 libras a Sra. White desamarrou o avental e convidou o estranho para entrar. O homem parecia um pouco nervoso e calado até tomar coragem para falar.

-Eu... pediram-me para vir aqui - disse ele finalmente, e abaixando-se tirou um pedaço de algodão das calças. - Eu venho representando "Maw&Meggins" onde o seu filho trabalha.

-Aconteceu alguma coisa com Herbert?! Ele se machucou? O que é- Ela se assustou tendo que ser acalada pelo marido.

-Calma, não tire conclusões precipitadas. O senhor certamente não trouxe más notícias, não é, senhor?

- Eu lamento... - começou o visitante

-Ele está ferido?

- Muito ferido - disse. - Mas não está sofrendo...

- Ah, graças a Deus! - disse a senhora, apertando as mãos- Graças a Deus! Graças...-Parou de falar de repente quando o significado sinistro da afirmativa se abateu sobre ela.

- Ele foi apanhado pela máquina... É dificil...- O visitante disse caminhando até a janela- A firma me pediu para transmitir os nossos sinceros pêsames a vocês por sua grande perda.- Respirando funto tentando encontrar as palavras certas para continuar ele disse- Eu peço que compreendam que sou apenas um empregado da firma e estou apenas obedecendo ordens... Devo dizer que "Maw&Meggins" estão isentos de toda responsabilidade- Continuou- Eles não têm nenhuma dívida com a família, mas, em consideração aos serviços de seu filho, desejam presenteá-los com uma certa soma como compensação.

O Sr. White largou a mão da esposa e, pondo-se de pé, olhou para o visitante horrorizado. Seus lábios secos pronunciaram as palavras:- Quanto?

-Duzentas libras - foi a resposta.

Indiferente ao grito da esposa, o velho sorriu fracamente, estendeu as mãos como um homem cego e caiu, desfalecido, no chão.

O enterro foi silencioso, como se o casal estivesse esperando que algo mais acontecesse, os dias foram se passando e eles quase não conversavam mais, não havia mais assunto. Em uma noite o Sr. White viu que sua esposa não estava mais na cama.

-Volte para cama- Ele disse ainda meio sonolento- está frio.

Foi então que um grito estérico da mulher despertou o velho completamente

-A PATA!!! A pata de macaco!!

-Onde? Onde está? O que houve?- Ele se levantou alarmado

-Eu quero a pata. Você não a destruiu certo?

-Está na sala em cima da prateleira, por quê?

-Só tive essa ideia agora! Por que não pensei nisso antes? Nós ainda temos dois desejos.

-Um já não foi o suficiente?!- O velho perguntou irritado

-Não, desça e deseje que o nosso filho volte à vida.

- Meu bom Deus, você está louca!- Gritou ele, horrorizado

- Pegue aquela coisa - disse ela, ofegante- pegue depressa, e faça o pedido... Ah, meu filho, meu filho!

-Volte para a cama- disse ele, incerto- Você não sabe o que está dizendo

- Nós conseguimos satisfazer o primeiro pedido - disse a senhora, febrilmente. - Por que não o segundo? Vá buscar a pata e faça o pedido- Ela gritou

- Ele já está morto há 10 dias e, além disso, ele... Eu não queria lhe dizer isso, mas... só consegui reconhecê-lo pela roupa. Se já estava tão horrível para você ver, imagine agora?

 Você acha que tenho medo do filho que criei?Traga-o de volta!!!

O velho desceu as escadas e tateou os moveis até encontrar o amuleto,a possibilidade de que seu desejo pudesse trazer o filho mutilado de volta o encheu de terror e medo. Com a testa fria de suor ele voltou para o quarto para encontrar a sua esposa pálida e ansiosa, ele sentiu medo dela.

-Peça!

-Isso é loucura!!!

-PEÇA!!!

Hesitante ele levantou a mão e disse- Eu desejo que meu filho viva novamente- O homem olhava para a pata que caiu no chão enquanto se afundava na cadeira trêmulo.

A esposa foi até a janela, mas nada parecia acontecer, Sr. White sentiu um certo alivio pelo amuleto ter falhado e voltou para a cama seguido pela esposa um tanto decepcionada. Os dois ficaram em silencio ouvindo o tique-taque do relógio, antes que eles pudessem cair no sono eles ouviram... Alguém estava batendo na porta da frente.

-É o Herbert!!!!- Ela gritou correndo em direção à porta, mas o marido bloqueou o caminho agarrando o braço dela

-O que vai fazer?- Ele sussurrou

-É o meu filho Herbert! Ele voltou!! Poque está me segurando? Me solte, eu tenho que abrir a porta.

-Pelo amor de deus, não deixe ele entrar

-Você está com medo do próprio filho- gritou ela, debatendo-se. - Me solte. Eu já vou, Herbert; eu já vou.- A senhora finalmente conseguiu se soltar e saiu correndo em descendo as escadas.

O marido tentou chama-la de volta, mas ela não respondeu, ele ouviu a corrente da porta balançar mas não ouviu a porta destrancando

-A tranca- gritou ela nervosa e ofegante.- Desça que eu não consigo puxar a tranca.

De joelhos no chão o velho procurava a pata desesperadamente, ele precisava encontra-la antes que aquilo entrasse em casa, as batidas na porta pareciam ficar cada vez mais altas. Ele sentiu o seu sangue gelar ao ouvir a porta destrancando lentamente. Finalmente ele encontrou o maldito talismã fazendo o seu ultimo desejo.

As batidas pararam, embora o som ainda ecoasse pela casa, ele ouviu a porta se abrindo e sentiu um vento frio subindo pela escada. Um gemido alto e longo de decepção de sua esposa tomou conta da casa. Tomando coragem o Sr. White desceu as escadas e foi até a porta da frente. O lampião da rua balançava de um lado para o outro iluminando uma estrada completamente deserta.

Fontes:
http://riesemberg.blogspot.com.br/2006/10/pata-do-macaco-w-w-jacobs.html
http://letrasmundosaber.blogspot.com.br/2012/07/pata-do-macaco-de-ww-jacob.html

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