24 de julho de 2016

Contos: A Verdade e a Mentira

Há muito tempo a Verdade e a Mentira eram irmãos e certa vez a Verdade pegou uma faca emprestada da Mentira, mas quando foi devolver, não conseguiu encontrar a faca em lugar algum.
Ele explicou ao seu irmão o que aconteceu pedindo desculpas e prometendo lhe reparar com outra faca.

A mentira porém se enfureceu levando o acontecimento até Enéade, o tribunal dos deuses, afirmando que a faca perdida era insubstituível.

"Como se atreve a tentar substituir a minha preciosa faca por outra qualquer? A sua lamina era como a montanha de Ial, o cabo era feito com a madeira de Copto, a bainha era como o tumulo do deus, e as correias eram feitas do gado de Kal!"

Após essa acusação, a Verdade, sempre honesto não teve como se defender, sendo declarado culpado. A Mentira então, pediu para que os olhos da verdade fossem arrancados e que ele se tornasse o porteiro de sua casa, só assim o prejuízo pela faca seria reparado.

O tribunal sabia que a Mentira não queria justiça pela perda da faca, e sim ferir o seu irmão para que ele nunca mais causasse problemas, mas devido as circunstancias, eles tiveram que conceder as exigências da mentira.

Depois de alguns dias a presença constante da Verdade nos portões de sua casa começou a incomodar a Mentira, mesmo que tivesse conseguido sua vingança, olhar para o seu irmão cego despertava um certo sentimento de culpa.

Para acabar com esse sentimento, a Mentira convocou dois antigos servos da Verdade e ordenou que levasse seu irmão para o deserto e o jogasse aos leões. Enquanto estava sendo levado, a Verdade pediu aos servos que não fizessem isso, que o deixassem entre as pedras, talvez alguém o encontrasse e o levasse para longe de seu irmão perverso.

Os servos concordaram, deixaram seu antigo mestre entre as pedras e contaram para a Mentira que suas ordens foram cumpridas.

A verdade vagou por vários dias até que sua comida e água acabaram. Cansado e com fome, ele se deitou ás sombras de uma colina e adormeceu. Próximo daquela colina passava a Dona dos desejos, uma mulher bela e elegante, sendo acompanhada por suas servas

Ao avistar a Verdade dormindo, uma das servas sugeriu que elas o levassem para se tornar o porteiro da casa, e embora a Verdade fosse cego e estivesse sujo por causa das viagens, ele continuava sendo muito bonito, fazendo com que a Dona dos desejos de apaixonasse por ele.

Naquela noite os dois dormiram juntos e a Dona dos desejos engravidou, dando a luz a um belo menino, uma criança de aparência divina, que superava todos os seus colegas em tudo o que fazia, mas que até aquele momento não sabia quem era o seu pai.

Um dia quando já estava mais velho, o jovem questionou a sua mãe sobre a identidade de seu pai, a Dona dos desejos apontou para um senhor cego parado nos portões da casa. O rapaz levou a verdade para dentro de casa e perguntou:

"Quem fez isso com o senhor? Quem o cegou? Conte-me para que eu possa te vingar."
"Foi o meu irmão mais novo" A verdade respondeu.

O filho então partiu em uma jornada com dez pães, um cajado, um par de sandálias, um odre cheio de água, uma espada, e um de seus bois mais belos, ele seguiu para encontrar o pastor da mentira que estava no pasto cuidando do rebanho da mentira. O jovem se aproximou e disse:

"Receba esses pães, esse cajado, essas sandálias, esse odre e essa espada como pagamento e cuide do meu boi até que eu volte da cidade"

Alguns meses depois a mentira foi visitar o seu rebanho e viu o boi que pertencia ao filho da verdade, ele realmente era um animal magnifico, então a mentira disse ao pastor:

"Sacrifique e prepare esse boi para que eu possa saboreá-lo hoje à noite."

"Sinto muito meu senhor, mas esse animal não me pertence, eu estou apenas cuidando dele até que o seu dono retorne"

"Muito bem, quando o dono retornar entregue um de meus bois à ele, tenho certeza que ele não irá notar a diferença"

Quando o filho da verdade retornou, ele sabia que o seu boi havia desaparecido. Mesmo depois que o pastor ofereceu o rebanho para que ele escolhesse um em troca do boi abatido, o rapaz recusou e se dirigiu até a Mentira o acusando de ter matado o seu boi e levando o caso até o Tribunal dos deuses, assim como a mentira fez com a verdade.

"Onde você encontraria um boi tão grande quanto o meu? se ele se erguesse em Paiuamon, sua cauda tocaria o local onde o papiro cresce, um dos seus chifres tocaria a montanha ocidental, enquanto o outro a montanha oriental e sessenta novilhos nascem dele todos os dias"

"Isso é um absurdo!" Respondeu os deuses "Nunca vimos um boi de tal tamanho"

"E desde quando viram uma lamina como a montanha de Ial, um cabo de madeira de Copto, uma bainha como o túmulo do deus, e correias feitas do gado de Kal? Eu sou o filho da Verdade que foi julgado culpado injustamente"

A Mentira então fez um pedido ao faraó para que arrancassem os seus dois olhos e o tornasse porteiro da casa da Verdade. Porém o rapaz não estava satisfeito, e acrescentou uma punição de cem golpes e cinco feridas.

Fontes:
http://www.mitologia.templodeapolo.net/mitos_ver.asp?Cod_mito=209&value=Verdade%20e%20Mentira&liv=Mitos%20e%20Lendas&mit=Mitologia%20Eg%C3%ADpcia&prot=Horus&lnd=#topo
http://misteriosantigos.50webs.com/meteoros-a-grande-mentira-cientifica.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário